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Preciso mesmo fazer a minha parte?

Quando eu estou estressada com as notícias do mundo, minha tia me conta a mesma história que ela contava quando eu era criança:

A floresta estava pegando fogo e todos os animais começaram a fugir. Mas de repente, eles viram que o passarinho voava em direção ao rio, pegava um pouco de água no bico, voltava e jogava nas chamas. Outros animais, bem maiores, perguntavam: “O que você está fazendo? Você nunca vai conseguir apagar o fogo sozinho!” Ao que o passarinho respondia: “Estou fazendo a minha parte!”

A lição é linda! Mas eu não sei se conseguia alcançar o efeito desejado de me acalmar. 

Eu sempre ficava pensando que esse passarinho ia morrer queimado enquanto os outros animais fugiam, que é sacanagem os outros animais não estarem ajudando (quer dizer, o elefante já é equipado com uma mangueira), e por fim, que o incêndio foi provavelmente causado por humanos, que são geralmente os culpados por incêndios em florestas, e então, eu voltava a pensar nos problemas do mundo…

E problemas não faltam! Entre a crise ambiental que pode causar o fim da nossa espécie e a ascensão da extrema direita que atrasa o encontro de uma solução, para dizer o mínimo, confundindo as pessoas com desinformação e negando que o problema existe, podemos dizer que a nossa floresta também está pegando fogo, e eu queria muito que isso fosse só uma metáfora...

Então, identificar o problema é importante certo? Entender quais são as causas do que estamos enfrentando seria o primeiro passo para encontrar uma solução. Para isso, indico dois documentários:

O primeiro se chama “Cowspiracy: O segredo da sustentabilidade” de 2014, que até a publicação deste texto, pode ser encontrado na Netflix:

Neste filme, o diretor Kip Andersen, investiga o impacto da pecuária no meio ambiente, enquanto tenta entender o porquê dessas informações tão importantes, não serem divulgadas para o grande público. Alerta de spoiler, é por causa do dinheiro.

O segundo documentário, é “A Corporação” de 2003, que pode ser assistido até no youtube.

O filme analisa a história e o comportamento das grandes corporações na sociedade, como se elas fossem pessoas (já que são consideradas pessoas jurídicas). E dá o diagnóstico: a “pessoa” corporação é uma psicopata. Assistindo ao documentário você vai se perguntar como eles conseguem se safar causando tanto mal a sociedade. Outro spoiler, é por causa do dinheiro.

Mas apesar dos dois documentários usarem seus últimos minutos para passar mensagens de esperança, a experiência de assisti-los nos deixa com a famosa sensação de impotência, e é aí que eu volto a pensar no passarinho. 

Talvez a história tenha a intenção de nos confortar sobre o pouco que conseguimos fazer, e nos incentivar a seguir em frente apesar de tudo. Mas talvez o passarinho seja mais esperto do que parece. Afinal, é tão absurdo que um pequeno animalzinho esteja lutando contra um grande incêndio, que seu esforço não passa desapercebido! Ele chama a atenção dos outros animais, que são compelidos a perguntar o que diabos ele está tentando fazer. E às vezes isso é tudo que a gente precisa…

Eu não sei se passarinhos tem muita influência sobre elefantes, mas eu posso afirmar que nós, seres humanos, temos muita influência uns sobre os outros!

Sabe quando sua mãe pergunta “Se fulano pular da ponte você vai pular também”? Você pode questionar de volta, porque quando a moça da novela usa uma blusa ela quer usar também! Claro que uma coisa é pior que a outra... E que coisa feia você querer retrucar sua mãe hein? Você tem cada ideia!

A questão é que, quando a gente não tem certeza do que fazer, sempre vai olhar para o lado. Ver o que os outros estão fazendo para fazer igual. E isso não precisa ser ruim!

 Nós não vivemos sozinhos, nós precisamos do grupo para sobreviver, para isso, cooperar e fazer coisas juntos é fundamental.

O único problema é que o capitalismo descobriu isso e aproveitou para vender seu estilo de vida. “Essa pessoa é feliz e realizada porque usa nossos produtos, use também!”

Talvez, então, a solução seja buscar exemplos de pessoas que perceberam que o caminho estava errado, desviaram e tiveram a coragem de gritar “Ei pessoal é por aqui!”.

Então, aqui vão mais algumas indicações de documentários, mas desta vez, sobre as pessoas que lutam a favor da solução:

Fools and Dreamers (2019) : O biólogo Hugh Wilson (provável parente do papai noel) tinha planos de recuperar a floresta nativa em uma região de terras improdutivas na Nova Zelândia, o que causou um alvoroço com a população de fazendeiros locais. Um deles, disse que o plano era coisa de “tolos e sonhadores”. Trinta anos depois, a vegetação e vida animal recuperada mostraram que precisamos de mais pessoas assim:


I am Greta (2020): Esse filme segue a jovem ativista (e nossa pirralha favorita) em sua cruzada para fazer as pessoas escutarem a ciência quanto aos problemas ambientais. Apesar dos ataques de líderes mundiais, ela conseguiu influenciar muitos jovens a lutar pelo direito de ter um futuro.



Awake: A Dream from Standing Rock (2017): Sobre um protesto histórico vindo da tribo indígena de Standing Rock, na Dakota do Norte, contra a construção de um gigantesco oleoduto em terras sagradas. Os ataques da polícia contra os manifestantes são difíceis de assistir, mas nada supera a força e a determinação dos autodenominados "protetores da nossa mãe terra”. Muito inspirador!


E existem muitos outros casos de pessoas liderando pelo exemplo. 

Claro que para mudar o sistema o mais importante é (tomar os meios de produção) nos envolver politicamente. Mas você deve sim parar de comer carne, começar a reciclar seu lixo e reduzir seu consumo, não porque o seu pouco vai fazer tanta diferença dentro do todo, mas porque você faz parte dessa rede de influência que se chama humanidade. Você é um outdoor vivo, seja consciente disso, porque o marketing é!

Talvez o passarinho entenda isso. Ele não está tentando apagar o fogo, mas está dando o exemplo. Essa é a parte dele...


Ass: Helen


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